terça-feira, 31 de dezembro de 2013


A luta entre Anderson Silva e Chris Weidman foi manchete nos noticiários dos maiores jornais e sites do Brasil, antes e após o evento que movimentou milhões em anúncios comerciais e apostas. Só para a luta, foram vendidos quase um milhão e quinhentos mil pacotes de pay-per-view. Cifras valorosas para os capitalistas que investem no setor.

A grande mídia, comandada pela Globo, tratava o episódio como a luta do século e a atribuía proporções de espetáculo. Há tempos eles tentam dar esse sentido ao UFC. Na luta o Anderson Silva quebrou a perna e Chris Weidman continuou campeão, muitos ficaram chocados com a cena, e com a violência.

O UFC (Ultimate Fighting Championship) é a maior empresa promotora desse tipo de luta, chamada de MMA (Mixed Martial Arts), artes marciais mistas.

A revista Época publicou um texto dizendo que o MMA é "o esporte que mais cresce no mundo" (http://revistaepoca.globo.com/Primeiro-Plano/Diagrama/noticia/2012/01/o-esporte-que-mais-cresce-no-mundo.html) e chega pela TV a cerca de 1 bilhão de casas de 150 países. Artigos classificando o MMA como o esporte mais próspero do planeta foram publicados também pela Veja, Folha de SP e outros.

Mas será mesmo que o "UFC" é um esporte? Podemos considerar esporte um evento que tem como objetivo machucar o adversário? Um evento que tenta fazer transformar sangue e sofrimento em entretenimento?

O esporte é um fenômeno moderno, que se desenvolveu paralelamente ao capitalismo. Segundo o sociólogo francês Pierre Parlebas, estudioso da Educação Física, "pode-se definir o esporte como um conjunto das situações motoras codificadas sob a forma de competição, e institucionalizadas". O capitalismo padroniza as práticas motoras criadas pelo homem, conforme sua ideologia burguesa e a busca pelo lucro.

Apesar de alguns dizerem que o esporte é só saúde e beleza, na sociedade capitalista ele é também ganância, dor e alienação. Como o UFC.

Com críticas interessantes, Juca Kfouri, sociólogo e comentarista esportivo da ESPN, publicou um comentário em seu blog afirmando que o MMA não é esporte (http://blogdojuca.uol.com.br/2013/12/se-depois-disso-alguem-ainda-achar-que-isso-e-esporte/?fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline):

"Se depois disso alguém ainda achar que isso é esporte… azar de quem acha e, principalmente, de quem pratica, embora estes, ao menos, faturem, e fraturem, com a morbidez alheia."

Após alguns comentários de leitores ele completa:

"Era inevitável que quem não queira ver o óbvio argumentasse com acidentes em outros esportes, e que o caso de Mirandinha fosse lembrado.

Esquecem os defensores da barbárie dos objetivos de cada prática.

Mirandinha queria chutar a bola, não o rival."

Numa coisa o Kfouri tem razão. Não se pode comparar o objetivo de modalidades esportivas como o futebol e o karatê com o objetivo do MMA. Repetindo, o UFC tem como objetivo machucar o oponente, algo parecido com as arenas romanas onde os gladiadores se matavam em nome do entretenimento, enquanto o imperador distraia o povo.

No futebol o objetivo é fazer gol, lesões são apenas acidentes da prática esportiva. No karatê, arte marcial, o objetivo é acertar o golpe da forma mais técnica possível e não machucar. No MMA o objetivo é tão diferente, inclusive do boxe, que se premia a "melhor luta da noite", que geralmente é a luta mais sangrenta e não a mais técnica do ponto de vista das artes marciais clássicas.

Apesar do objetivo dos esportes tradicionais não serem o massacre e o sofrimento do oponente, como no UFC, no capitalismo o objetivo de quem controla o esporte é sempre o lucro. O entretenimento e o lazer são apenas instrumentos para se ganhar mais dinheiro.

Assim são montadas as regras, assim são estabelecidos os padrões técnicos, os padrões de vestimentas e consumo. Um dos exemplos é o vôlei, que teve sua regra modificada para atender a necessidade dos intervalos comerciais (extinguiu-se a "vantagem" da regra, pois os "sets" demoravam muito). A grade de programação da televisão dita o horário das partidas de futebol, e não a necessidade dos torcedores.

Anderson SIlva x Chris Weidman

O capitalismo cria necessidades e faz os trabalhadores consumirem. Criaram um novo esporte, transformaram-no em "espetáculo midiático" e obrigaram milhões a assinar canais de assinaturas, pois na TV aberta não daria tanto lucro quanto exigir que todos paguem pelo canal fechado.

O MMA/UFC é um esporte! Mas um novo patamar de esporte, que mostra o que o capitalismo é capaz de produzir, ou destruir - como é o caso das artes marciais. E o pior, o capital cria necessidades e nos faz gostar delas, por mais absurdas que seja.

Numa sociedade inteligente, que utiliza o conhecimento, a tecnologia e a riqueza produzida pelo homem unicamente para evoluir a sociedade e satisfazer a necessidade da maioria, o esporte estaria a serviço do lazer, do entretenimento e enriquecimento cultural do homem. Esse mundo é possível, e passa pela expropriação da burguesia e controle coletivo dos meios de produção, e do esporte.

Abaixo à barbárie!

Abaixo o capitalismo!

Fábio Ramirez

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